quinta-feira, maio 30, 2013

A Batalha de Oliveiros


W.J.Solha

Algum tempo após a morte de Roldão, fui à casa dele e de Inês. Ao entrar no alpendre e passar entre as talhas representando Carlos Prestes na Coluna e Marighela nas guerrilhas, senti a presença forte do mano, evocada também pelas avencas fartas, redes, o frescor das samambaias, viveiros com canários, araras e sanhaços. Chega ouço Geraldo Vandré tocando violão lá em baixo, conosco, debaixo das mangueiras, todos nós cantando
                  
                                                  ”Vem, vamos embora,
                                                 que esperar não é saber.
                                                 Quem sabe, faz a hora
                                                 não espera acontecer!”

“Pobre Roldão – eu penso – Pobre Carlos Magno. Pobre Geraldo Vandré. Pobre de mim.”

Guiado pela criada esquiva, entro no gabinete de meu irmão e me sento numa das hospitaleiras poltronas negras e gordas. Sobre o sofá, na parede, os cartazes - autografados - dos filmes “País de São Saruê”, “Aruanda”, e “Homens do Caranguejo”.

Olho para as várias escalinatas verdes, de samambaias, que oscilam no alpendre ( como delicados móbiles de Calder ), suspensos dos caibros. Na mesinha-de-centro, à  esquerda, um exemplar do recém-lançado Das cores, as Cinzas., de Inês, fazendo peso no Pasquim novo com a entrevista do Paulinho – o Paulo Pontes. Acendo um cigarro, empurro o livro de Inês para um lado, leio uma das declarações grifadas certamente por ela, em que ele diz:

“A realidade brasileira está muito complicada, hoje, daí a ausência de uma saída”.

E há uma revista Veja, aberta sob o Pasquim, também grifada, com Celso Furtado dizendo:
                             
Se não existe hoje a possibilidade de entender a crise mundial que aí está, é porque não temos um conhecimento  das mudanças estruturais que ocorreram na economia mundial.

Tragando a fumaça com avidez, salto os olhos para uma resposta anterior:
                           
Assim, se não houver um grande avanço para entender todas essas sociedades humanas atuais, continuaremos a ter grandes dificuldades para identificar os verdadeiros problemas, para formar justas políticas, para organizar e desenvolver movimentos sociais e econômicos nos países o Terceiro Mundo!

“Mas meu deus!”, eu penso, com forte renovação da angústia. “Será que ninguém, então, está sabendo mesmo de nada?”


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