quinta-feira, agosto 15, 2013

Ainda descendo a ladeira

Carlos Cordeiro

 O INSS, uma das instituições mais respeitáveis deste País, decidiu muito acertadamente atualizar seus arquivos, na presunção de que muitos de seus aposentados e pensionistas já morreram e não avisaram seu passamento, permitindo assim que algum parente sabidinho continue a receber seus proventos. Então, para acabar com essa safadeza, exigiu que todos os seus aposentados e pensionistas se dirijam a qualquer agência do banco onde têm a chamada conta-salário, munidos de identidade e cartão, e mostrem que continuam vivinhos da silva.

Pois bem, fiz o que a instituição pedia e dirigi-me à agência do Banco do Brasil mais próxima de minha casa. A mulherzinha que me atendeu perguntou se meu endereço continuava aquele.

Tudo isso é kafkiano, é surreal, é sobretudo de uma burrice córnea. Não culpo a pobre moça que me atendeu, e que “raciocina” com a mesma acuidade de uma secretária eletrônica. O problema – digamos a verdade toda - é que tudo neste país é comandado pela burrice. Até as roubalheiras carecem de um mínimo de inteligência, já que, todo dia e toda hora, são facilmente descobertas – é claro que aí o peso maior cabe à absoluta certeza da impunidade. Mas provavelmente não há outro país mais imbecilmente administrado do que o nosso, com uma burocracia aterradora, uma máquina estatal emperrada e emperradora, cheia de exigências descabidas e inúteis.

É assim este belo país. Diz um amigo meu, residente nos Estados Unidos, que morre de medo de voltar para cá – “porque no Brasil você tem de brigar o tempo todo por tudo”. Todo mundo fura fila, todo mundo engana, qualquer providência – de alugar um apartamento a oficializar um divórcio – depende de demarches burocráticas intermináveis, idas e vindas a cartórios e a repartições que supostamente têm a função de fiscalizar. Boa piada! Um país que está entre os mais corruptos do mundo, onde há falcatruas em toda parte, desde a mais humilde prefeitura de interior até os altos comandos do sistema, possui uma estrutura de fiscalização totalitária, uma espécie de olho inquiridor que vigia e cobra cada passo do cidadão. Pobres de nós! Continuamos sendo, apesar de todos os títulos ufanistas que nos dão, um país de merda. E o Banco do Brasil, por coerência, é o banco deste país. Miserere nobis, Domine! 
le que está na minha ficha bancária. Eu disse que não, e que, até por isso mesmo, tinha trazido uma conta de telefone, como comprovante de meu novo endereço. Mas não pode, explicou a douta atendente, o senhor tem de dirigir-se à sua agência original. Quis saber por quê. Porque é. Mas o banco não tem todas as suas agências, em todo o território nacional, em rede – de forma que eu posso movimentar minha conta aqui no Rio, em Camocim de São Félix ou no Alto Araguaia? É, mas para mudar o endereço, não pode.

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