Plínio Palhano
Uma das obras essenciais para a compreensão e o registro histórico sobre os movimentos culturais da cidade de Olinda é o livro Utopia do olhar,
de autoria do artista plástico e crítico Raul Córdula, uma das mais
expressivas e fortes personalidades no âmbito da arte e da cultura,
sempre presente no conceito e na concreção de manifestações visuais no
País e na Região Nordeste. O texto é uma narração dos fatos que marcaram
a cultura olindense e obedece a uma sequência desde os idos dos anos
1950 até a contemporaneidade, com um ritmo excelente para o leitor. Raul
faz um levantamento monumental, nas artes visuais, de movimentos e
nomes, sem omitir nenhum de seus pares, procurando ouvi-los e
consignando depoimentos de forma harmônica e elegante, porque esse é o
seu estilo.
Olinda
se tornou Patrimônio da Humanidade, principalmente por sua história,
sua beleza arquitetônica e o destaque da sua paisagem natural. Mas creio
que também a presença de artistas na cidade contribuiu e impulsionou a
conquista desse título, porque o próprio Aloísio Magalhães — à época
como secretário-geral do Ministério da Educação e da Cultura (MEC) —, um
desbravador em várias vias culturais, principalmente quanto ao design
no País, foi um artista que utilizou sua arte como um dos instrumentos
para essa empreitada. Realizou dez litografias, através de seus
registros fotográficos sobre Olinda, e um tríptico, isto é, três
litografias conjuntas com o perfil completo do Sítio Histórico. Para
cada imagem, cem reproduções. Aloísio reuniu 21 conjuntos dessas
litografias assinadas por ele, a obra de Gilberto Freyre Olinda – Segundo guia sentimental de uma cidade
e o conjunto de fotografias de Pedro Lobo. Distribuiu esse material com
os 21 membros do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Cimos),
da Unesco, para convencimento da conquista do título universal.
Mas
até chegar a essa conquista foi uma longa história de movimentos e
mobilização de artistas em Olinda. A gênese foram as primeiras presenças
de artistas importantes na década de 1950, o Movimento da Ribeira, que
foi fundamental para unir e dinamizar exposições e consolidou uma
história nutrida por talentos que fixaram seu ateliê na cidade e
repercutem nos âmbitos local e nacional; assim como, em paralelo, pelas
vias governamentais, a criação de museus e a restauração de monumentos
históricos; tudo isso alcançando a atualidade, que da utopia virou realidade como forças culturais e políticas que imperam e influem na cidade dos artistas.
Plínio Palhano é artista plástico
Nenhum comentário:
Postar um comentário