segunda-feira, setembro 30, 2013

Ainda Brasil à meia-noite

 Ipojuca Pontes


O artigo de Martinho Moreira Franco sobre as “sessões só para homens” do Cine Brasil está a inspirar os cuidados de alentado ensaio sociológico sobre a vida sexual do paraibano (vá lá, pessoense) em meados do século passado. Quem se habilita? (Wills Leal, pelo açodamento preguiçoso, não vale).

 De início convém anotar que o boom das nossas sessões dos filmes “só para homens” não se deu nos anos 60, mas, sim, nos anos 50. Em especial no verão de 1956, quando a Capital havia sido foi tomada pelos “assustados” da Boate Samburá, em Tambaú, ao som 3x4 do onisciente Waldyr Calmon, atraindo, antes do “Balanço das Horas”, a gana das nossas inquietas adolescentes; do aparecimento da insaciável doméstica Jacaré, que iniciou, depois das 21 horas, entre os escuros bambus da Lagoa, boa parte dos estudantes do Liceu Paraibano nos quefazeres do sexo; e, para jubilo da nossa vida noturna, as exaustivas provas do recordista Moura Brasil que, em cima de uma bicicleta, varava dias e noites dando voltas em torno do Parque Solon de Lucena, cujos espectadores queriam ver (para crer) como o ciclista, pedalando sem parar, descomia de noite o que comia de dia.

Os filmes pornográficos projetados no Cine Brasil eram explorados por dois “distribuidores” de Recife: eles conseguiam, junto às autoridades locais, na base da propina, liberar as fitas “improibidas” para menores de 18 anos. As filas, para uma João Pessoa de uns 150 mil habitantes, eram grandes; algumas delas, passando pelo cartório de Damásio Franca, na esquina da General Osório, enroscavam a Silva Jardim, nossa zona mais chula, onde Julinha, concorrente de Jacaré, apagava por escassos cruzeiros o fogo da ralé.

Os filmes eram em preto e branco, bastante desgastados e mostravam, em geral, a lascívia de velhos tarados por cima das carnes alvas e enxundiosas das moçoilas. Os closes mais audaciosos eram guardados para o clímax de cada ato, em particular os do clássico minete, especialidade em que Dr. Meira, prata da casa, tornou-se mestre. A platéia, sempre operosa no vai-e-vem das mãos ágeis, por motivos óbvios – ou melhor, não óbvios - urrava quando a fita se quebrava e a projeção era interrompida.

No final do espetáculo, os espectadores  mais endinheirados corriam para agitada Maciel Pinheiro, onde Saloia e Isaura, duas cafetinas de peso, acolhiam a todos com entusiasmo. Os menos aquinhoados dobravam a esquina da Silva Jardim e caiam em cima da paciente Julinha, que desempenhava seu papel com rara eficiência.

Na sala e projeção do Cine Brasil, só ficava o engraxate Coquinho que, portando vassoura, balde e pano embebido em creolina, procurava recompor a improvável limpeza para a sessão do dia seguinte, pois nenhum dos briosos funcionários da casa aceitava encarar semelhante tarefa.
  
Bons tempos! 



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