quinta-feira, outubro 03, 2013

Ah, essa falsa cultura

Hugo Caldas

Estava eu posto em sossego, tomando o meu habitual deforete ao pé da minha janela para o Atlântico, quando tão inesperadamente quanto no poema do Vinicius, me assaltou uma inquietante interrogação.

- "Pra que servem os jornalistas?"

Após alguns segundos de conjecturas, eis o que assomou o meu grácil e pobre espirito. Oras, jornalistas devem ter boa serventia visto que são pessoas supostamente possuidoras de um mínimo de conhecimento, pois seu ofício é o de bem informar às pessoas que não possuem esse mínimo de conhecimento. Mas qual! Imperioso ter que concordar com a máxima de Dona Yayá Gurgel: "não desanime meu filho, a ignorância estará sempre ao alcance da sua mão".

Mal empregado o tipo de castigo perpetrado por minha inesquecível professora Dona Tércia, qual seja, o uso indiscriminado de beliscões empurrões e cascudos para falar, escrever e pensar as coisas de maneira correta. De que valeram? Muito. Eu hoje falo, escrevo e penso com regular desembaraço. A minha noção das coisas é cristalinamente clara.

Mas dizia eu, quando fui abruptamente interrompido pelo alarde do caminhão do lixo no seu diário métier de nos tirar o sono, bem como pela inhaca resultante deste mesmo métier. "Qual o assunto do dia que não sai da tela dos telejornais?" A tragédia do Japão é claro.

Vinha esse pobre marquês de assistir ao noticioso das 13 horas. Estavam a apresentadora, uma mocinha bonitinha e seu companheiro um apresentador almofadinha paulista em animado colóquio com um professor, especialista em mil e uma coisas. Já o vi traçando frases de efeito sobre religião, história, política, enchentes e agora a pobre alma colocou a carapuça de especialista em Terremotos e Tsunamis. O dito professor/especialista deitou falação, disse algumas bobagens e desapareceu após o intervalo comercial. Esperava vê-lo continuar na sua arenga estéril, mas, cadê o homem? O canto mais limpo. Face ao misterioso desaparecimento os dois apresentadores tiveram que se virar sozinhos e de uma maneira ou de outra levaram o programa ao final.

Como não podia deixar de ser, a mocinha bonitinha veio a trocar alhos por bugalhos quando se referiu ao Japão como sendo "O Império Onde o Sol Nunca se Punha". Não riam, por caridade. Aqui pra nós minha filha, sua geografia anda meio desengonçada e você não deveria ter faltado àquela aula de história naquela tarde da Quinta-Feira Santa. Até segunda ordem o Japão é "O Império do Sol Nascente". "O Império Onde o Sol Nunca se Punha", era a Velha Albion que você, sem muito esforço, relocou para muito além da Tapobrama, mais especificamente para o oriente longínquo. Mas, liga não minha santa, um dia vosmicê aprende.

Tenho pra mim, no entanto, que desvendei o mistério do desaparecimento do "experto". Consta que ele teria ficado escondido nos bastidores às voltas com uma formidável crise de riso.

Um comentário:

Osnaldo Araujo disse...

Aliás, na Loura Albion diz-se atualmente que passou de império onde o sol nunca se põe para o império onde o sol nunca nasce, hehehe...